Alexandre Magno Frota Monteiro (2005)
ESTUDO DE CASO Este estudo de caso tem por objetivo apresentar uma nova ferramenta para o auxílio do tratamento de doenças neuropsiquiátricas que acometem a população da terceira idade. Foram apresentados neste estudo dados referentes à Terapia Assistida por Animais, sendo omitidos dados referentes ao tratamento psicológico. O cliente foi indicado por um psiquiatra para que fosse feita a avaliação psicológica e o tratamento cognitivo-comportamental da depressão deste senhor. O cliente, aqui chamado de “X” tem 72 anos, italiano, mas vive no Brasil há 46 anos, viúvo e tem um filho que vive em Barcelona. Há cinco anos, em 2000, operou de câncer de próstata e fez sessões de radioterapia. O motivo do encaminhamento foi a tentativa de suicídio cometida por duas vezes. Na primeira vez, ele fechou as janelas de casa e deixou escapar o gás, sendo socorrido pela empregada que chegou a casa a tempo de evitar o suicídio. Na segunda vez, ele tomou todos os medicamentos para a depressão de uma vez, sendo socorrido a tempo e ficou internado no hospital para fazer lavagem estomacal.
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL No consultório, após a anamnese, foi aplicado o INVENTÁRIO BECK – DEPRESSÃO, e assim, durante três semanas seguidas, o qual os resultados podem ser observados abaixo. 1ª SEMANA – 42 2ª SEMANA – 37 3ª SEMANA – 39 Este inventário tem a seguinte gradação ou níveis de depressão: NÍVEIS DE DEPRESSÃO - BECK · < 10 → SEM DEPRESSÃO OU DEPRESSÃO MÍNIMA; · 10 A 18 → DEPRESSÃO, LEVE A MODERADA; · 19 A 29 → DEPRESSÃO, MODERADA A GRAVE; · 30 A 63 → DEPRESSÃO GRAVE.
Foi observado que após as três aplicações, o senhor X apresentou traços de depressão grave e como ponto comum, apresentou as seguintes concordâncias entre as aplicações: - EU ME ODEIO; - EU ME MATARIA SE TIVESSE OPORTUNIDADE; - EU PERDI TODO O MEU INTERESSE PELAS OUTRAS PESSOAS.
Na sexta sessão o senhor X veio somente para comunicar que não faria mais a terapia, pois estava ali obrigado e que achava aquilo perda de tempo. No mais, sentia-se incomodado com o espaço fechado e as vezes sentia-se muito pressionado e sufocado. Como alternativa, sugeri que fizéssemos a nossa sessão na praia e como justificativa lhe disse que seria um lugar neutro, que poderíamos ficar sentados num quiosque e que ele poderia observar o mar, os pedestres que passavam, poderia tomar água de coco e também ver os animais. Na sétima sessão, encontramo-nos na praia. Nesta sessão, levei o cão comigo a praia – GREYHOUND ITALIANO – e lhe disse que a minha casa havia sido dedetizada e que não poderia deixar o animal sozinho em casa, pois poderia ocorrer uma intoxicação. Fizemos a sessão sentados no quiosque. Esta era o começo da quarta semana de atendimento e o senhor X continuava relutante ao tratamento e não tinha colaborado com nenhuma atividade proposta para que fosse feita na sessão ou como tarefa de casa. Na oitava sessão, levei o cão novamente. Elaborei uma nova tática e lhe disse que eu não podia sentar, pois estava com um furúnculo e que precisaríamos caminhar um pouco pois eu sentia dores. Disse-lhe também que eu estava esperando um telefonema importante, e que precisaria atender caso o telefone tocasse. Começamos a caminhar e logo simulei o tal telefonema, mas pedi para que ele segurasse a guia do cão para que eu pudesse falar mais a vontade, pois talvez eu precisasse fazer algumas anotações. No entanto, no decorrer da nossa caminhada, duas meninas pararam e fizeram perguntas sobre o cão e ele respondeu todas as perguntas, mas com informações que não eram verdadeiras, como idade, nome e sexo do animal. Ao final da sessão, olhei para trás e fiquei surpreso com a distancia que havíamos percorrido. Percorremos ± 1,2 km e para finalizar a sessão, sentamos e conversamos sobre os benefícios da caminhada. Na nona sessão, encontramo-nos na praia e começamos a nossa sessão terapêutica e a nossa caminhada. No meio da caminhada, passamos por um casal de italianos e eles nos perguntaram algo sobre o cão e conversavam entre si, mas em italiano. O senhor X logo entrou na conversa, também em italiano, deixando-me de lado sem entender o que eles conversavam. No final da sessão, ele deu água ao cão e deixou que o mesmo deitasse no seu colo. Na décima sessão, o senhor riu quando me viu. Pediu para segurar o cão durante a caminhada e falou com detalhes o que tinha acontecido durante a semana. No final da sessão, sentamos no quiosque e ele deu um presente ao cão – um lenço antigo com um forte cheiro de naftalina. Na oitava semana, tive alguns problemas com alguns comportamentos emitidos pelo senhor X. Ocorreram diversas ligações convidando a mim e ao cão para irmos à praia, mesmo com chuva. Propôs-me também de passar em minha casa para pegar o cão ou que eu levasse o cão em sua casa para que pudesse passar o final de semana. Ao final desta semana apliquei novamente o INVENTÁRIO BECK DE DEPRESSÃO e o resultado foi 16 PONTOS, estando, dentro da escala com uma gradação de LEVE A MODERADA. Na semana seguinte, recebi uma ligação do filho do senhor X, querendo saber o que estava acontecendo com o comportamento de seu pai, pois o mesmo estava mais comunicativo e falava muito em ter um cãozinho que o pudesse acompanhar a praia. Conversamos sobre as diferenças entre o ANIMAL ADOTADO x ANIMAL COMPRADO e durante uma sessão, conversei com o senhor X sobre a característica de algumas raças e o que mudaria na sua vida após adquirir um animal. Para meu espanto, o senhor X disse-me que alem de já saber das conseqüências, já havia feito pesquisas e estava em duvida entre três raças, chegando logo a conclusão de que seria bom que tivesse um YORKSHIRE. O filho do senhor X mandou o dinheiro e logo o animal foi comprado. Nas duas semanas seguintes, após a aplicação do INVENTÁRIO BECK DE DEPRESSÃO, o resultado continuou o mesmo, oscilando entre 10 e 16 PONTOS, apresentando, assim, uma estabilidade emocional. Preparava-me para iniciar o processo de alta, passando assim, a atendê-lo a cada 15 dias quando veioa surpresa. O senhor X apareceu na clinica e disse-me de que não precisava mais de terapia, pois alem de sentir-se melhor fisicamente e psicologicamente, ao levar o cão a praça, tinha conhecido um grupo de senhores que jogavam BOCHA e que o mesmo havia sido convidado para jogar também, ficando, assim, impossibilitado de ir a terapia, pois coincidiria com o horário do jogo. Combinei com ele que fizéssemos uma sessão periódica para manutenção e ele, assim concordou.
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